A minha geração está chegando ao poder.
As gerações passadas discutiam política com um entusiasmo pueril, tipicamente adolescente, cheio de certezas e absolutos imperativos incontornáveis e inexoráveis. A minha geração não chegou a isso. Porque para discutir é preciso pensar e a minha geração acha que pensar cansa. Contestar qualquer coisa, então, nem em sonho.
A minha geração respirou a explosão do ar da liberdade sem verdadeiramente conhecer o cheiro fétido do medo de pensar. Não sofreu censura, não precisou pegar em armas, não apanhou da polícia, não gritou "abaixo a ditadura". Recebeu a liberdade pronta e mastigadinha, mas não soube o que fazer com ela. O presente não era do seu tamanho.
Se as gerações passadas não podiam dizer o que pensavam, a minha geração não diz rigorosamente nada, porque não tem rigorosamente nada pra dizer.
As gerações passadas experimentaram quase tudo o que havia para experimentar. A minha geração já nasceu velha. É como aqueles pêssegos descongelados nas prateleiras dos supermercado. Já chegou definhada. Macilenta e sem fulgor.
Não sei dizer se as gerações passadas venceram suas batalhas. A minha geração rendeu-se sem sequer lutar. Ao dinheiro, à fama, à capa de revista, à anorexia, ao óbio, ao pragmatismo, ao silêncio.
A minha geração entregou-se. Vive de memórias do que podia ter sido. Vive de nostalgia de uma época que não conheceu. Encanta-se com os jovens do passado, que queriam mudar o mundo. Se é verdade que falharam, a minha geração nem sequer teve essa ambição.
As gerações passadas tudo questionavam, a minha geração aceita o absurdo como estado natural.
Todas as gerações envelhecem. A minha geração envelheceu rápido demais. Amadureceu e tornou-se igual a todas as outras que capitularam. Não há nada de especial na minha geração. Acomodou-se. A minha geração aprendeu que o respeito é muito bonito. A minha geração tornou-se uma força incontornável de realistas.
Parafraseando José Manuel da Fonseca: "Eu sou da minha geração. Mas não tenho orgulho nisso."
Autoria: Caio Leonardo Rocha
2 comentários:
O autor do texto e o da frase "Eu sou da minha geração. Mas não tenho orgulho nisso."
Enquadram-se perfeitamente nessa geração que sentem repulsa, são como qualquer outro que não faz nada e não se movimenta para mudar esse quadro em que vivemos, tem apenas uma pequena diferença reconhecem como esta passando o tempo e agente aqui parado sem fazer nada. Se realmente se importam com os problemas não façam como críticos “idiotas” que apenas destacam os problemas esperando que apareça uma solução do céu. Vamos lá, vamos nos movimentar.
COMO DIRIA O GRANDE SALOMÃO “Não venha com chorumelas para o meu lado”
"uma ideia na cabeça e uma pedra na mão, vamos fazer a revolução"
Abracetas Meneghetts
Concordo :)
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